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Eu Não Sou um Objeto

  O mundo era cruel para quem n?o tinha poder. A realeza governava com punhos de ferro, e os fracos eram reduzidos a nada mais do que mercadorias. Eu aprendi isso cedo demais.

  Correntes frias apertavam meus pulsos enquanto eu era arrastado para o palco. O cheiro de suor e metal enferrujado preenchia o ar. Os olhos famintos da multid?o me analisaram como se eu fosse um objeto simples.

  — Lote 23! Jovem, saudável e obediente! Quem dá mais? — a voz do mercador ecoou.

  As placas se ergueram no ar, uma após a outra.

  — Cochile mil horas! — comunicar um homem no meio da multid?o.

  — Alguém dá mais? — insistiu no mercador.

  — Vinte mil! — outra voz se sobressaiu.

  Minha mente estava um caos. “Isso é um sonho? Por que isso está acontecendo comigo?”

  Meu cora??o batia rápido. Medo. Raiva. Desespero. Tudo se misturava dentro de mim. Mas ent?o… algo desesperado. Uma for?a adorada, quente como fogo, pulsava em minhas veias. E naquele instante, eu soube: eu n?o era uma simples escrava. E esse mundo ainda aprenderia a temer meu nome.

  As lan?as continuaram, mas um calor insuportável cresceu dentro de mim. Meu corpo queimava. A dor me fez cair de joelhos. O mercador se irritou.

  — Levanta, crian?a estúpida! Está me fazendo bobo!

  Tentei me erguer, mas minha vis?o turvou.

  — Meu corpo dói… está queimando… — murmurei, minha respira??o falhando.

  Os murmúrios da multid?o misturaram-se mais altos.

  — Por que pararam os lances?

  — Qual o sentido disso?

  O vendedor varou os dentes.

  — Este lote está cancelado! Próximo, lote 24! Uma elfa!

  Fui arrastado para fora do palco como um peda?o de carne estragado. N?o era um ser humano para eles. Apenas um objeto defeituoso.

  Jogaram-me dentro de uma cela de metal enferrujada, o cheiro de podrid?o impregnando o ar. O mercador entrou logo atrás, empunhando seu chicote.

  Stolen content warning: this content belongs on Royal Road. Report any occurrences.

  — Você me fez passar vergonha na frente dos clientes. Agora vai pagar por isso.

  Eu o encarei, sem for?as para reagir. Ele ainda me tratava como um objeto. Mas algo dentro de mim dizia… isso estava prestes a mudar.

  Quando o chicote do mercador se estendeu, tudo ao meu redor desacelerou . O tempo se esticava, como se cada segundo se arrastasse por uma eternidade. Eu vi seus olhos — frios, brilhando com desprezo — e senti a dor do golpe antes mesmo de ele me atingir.

  E ent?o, eu vi.

  A realidade se fragmentou em vis?es. Vi o passado do mercador, uma infancia sufocada pela violência. Vi as vidas que ele destruiu para alcan?ar seu poder, os rostos dos quais nunca puderam escapar. E vi seu futuro. Um futuro sem reden??o. Suas m?os manchadas de sangue, sempre, até o fim. Mas ele nunca entenderia a verdadeira extens?o do que faria.

  E ent?o, o vazio.

  Uma avalanche de emo??es me atingiu. N?o queria ver isso. N?o queria sentir. Mas o peso do sofrimento de um passado e futuro t?o cru afundou em meu peito, esmagando-me por dentro. A dor dele agora era minha. A raiva dele se misturava com a minha. Cada lágrima n?o derramada. Cada grito sufocado.

  — Eu n?o sou como você.

  As palavras escaparam dos meus lábios, quase um sussurro. O calor do meu poder cresceu, cada vez mais forte, mas eu n?o sabia controlá-lo . Era demais. Insuportável. As vis?es do passado e do futuro eram facas afiadas cortando minha alma.

  Eu n?o queria ver. Mas n?o poderia parar.

  O mercador avan?ou, chicote em punho. Eu sabia o que ele faria, sabia exatamente como ele se moveria. Mas n?o queria saber. Queria fechar os olhos. Queria fugir. Mas a for?a de sua presen?a, de sua m?o se aproximando... me paralisava.

  Ent?o, o poder dentro de mim está claro .

  — Eu n?o sou uma pe?a no seu jogo! — minha voz agora era dor e fúria misturadas.

  Vi o futuro. Vi o momento em que ele cairia , esmagado pelos próprios pecados. Vi suas m?os tremendas, sua boca murmurando algo sem som. Vi o medo de tomar conta dele. O controle que ele perdeu ter sobre mim… já n?o existia.

  Eu sabia . Ele n?o sabia de nada .

  Ele deu um passo para trás.

  Mas antes que eu pudesse fugir, a exaust?o me venceu . Meu corpo cedeu, os joelhos atingiram o ch?o. O peso do mundo esmagava meus ombros.

  Eu sabia que esse era apenas o come?o .

  As consequências desse poder ainda me assombrariam. E o que aconteceria comigo… eu n?o sabia .

  Apenas uma coisa era certa.

  Eu nunca mais seria a mesma.

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